Em nossa bandeira nacional está escrita a divisa “Ordem e Progresso”, baseada na máxima do filósofo francês Augusto Comte, refletindo os ideais republicanos de desenvolvimento ordenado no país, em voga no final do Século XIX. Seu contemporâneo, o filósofo inglês John Stuart Mill define a Ordem como responsável pela preservação daquilo que já existe, cabendo ao Progresso incrementá-la, de maneira que ambas abrangeriam tudo o que os governos devem promover, servindo de base de qualquer filosofia de governo.
A frase, que hoje parece apenas refletir o bom senso, criou polêmica e o então Bispo do Rio de Janeiro teria se recusado a abençoar a bandeira, por entendê-la, por suas raízes positivistas, incompatível com os princípios católicos.
A evolução do Brasil, desde a Proclamação da República, contudo, não foi exatamente de um progresso ordenado e ao que parece, adentramos o Século XXI com a situação se agravando, o que evidentemente não é aceitável.
Reiteramos aqui a importância da ordem, uma vez que para que os indivíduos e as sociedades possam progredir, são necessárias condições mínimas de estabilidade e previsibilidade.
Pandemia, crise climática, guerras e outros inúmeros problemas contemporâneos tem sido causa de indescritível ruptura da ordem e acreditamos que se existe um sentimento comum que une a todos neste momento é uma verdadeira “fome de normalidade”. Queremos dar continuidade às nossas vidas. É simples assim.
Tal desejo, contudo, parece que não está sendo compreendido pelas instituições políticas, no Brasil e no mundo, uma vez que o que testemunhamos são muitas vezes comportamentos que ensejam situações exatamente opostas, estimulando a divisão e a animosidade (isso quando não flertam irresponsavelmente com a ruptura institucional, o que não é aceitável uma vez que a ordem, no mundo contemporâneo, tem necessário supedâneo no Estado Democrático de Direito).
Nossas eleições são o exemplo mais bem-acabado de como a radicalismo dominou o cenário sociopolítico, gerando uma sociedade que vive em constante sobressaltos institucionais no mais das vezes envolvendo os três poderes da República.
O que precisamos, neste momento, é exatamente o oposto, pois apenas a ordem e a normalidade poderão gerar uma sociedade em que floresça a confiança mútua, tão importante para o desenvolvimento social e a cooperação.
Chega de dar asas aos desarrazoados, aos radicais, aos intolerantes de qualquer coloração. Não podem as autoridades de quaisquer dos poderes constituídos (em todos os níveis), que tem exatamente como função apaziguar a sociedade permitindo seu funcionamento ordenado, gerando soluções, serem a maior fonte de desordem e confusão, atrapalhando na vida dos brasileiros que assiste estarrecida, a uma verdadeira comédia de erros por parte de praticamente todas as instituições.
As eleições acabaram. Devemos nos centrar em nos organizar para progredirmos coletivamente e até mesmo a nossa bandeira é claro quanto a isso. Não podemos perder o foco em 2023.
André de Almeida, Sócio e CEO do Almeida Advogados